A União Soviética deixou o mundo boquiaberto a 3 de Novembro de 1957, com o lançamento do Sputnik II. A bordo da pequena nave satélite viajava uma pequena cadela: a Laika, o primeiro animal a orbitar a Terra. Todavia, a Laika não terá sido o primeiro animal a ser lançado no espaço. Quer os EUA, quer a URSS já antes haviam lançado animais no espaço - desde 1947.
Nos tempos primórdios da "Rocket Science" ninguém imaginava que efeitos teria a ausência de peso sobre seres vivos. Então, animais - principalmente cães, chimpazés e outros macacos - foram utilizados para testar a segurança e viabilidade de lançar seres vivos para o espaço, trazendo-os de volta intactos.
Desde então, os animais têm desempenhado um papel importante na compreensão do impacto da micro-gravidade, no que diz respeito a diversas funções biológicas. Os astronautas têm estudado todo o tipo de animais - moscas, abelhas, tartarugas, minhocas, peixes, aranhas, coelhos, baratas, formigas, sapos, ratos, grilos, caracóis, traças, medusas, porquinhos da índia, borboletas, escorpiões, etc.
Sputnik I
Após o êxito do Sputnik I, Nikita Khrushchev solicitou o lançamento de um segundo satélite artificial no espaço, para assinalar o quadragésimo aniversário da revolução russa (dia 7 de Novembro de 1957). Por esta altura, os soviéticos tinham em andamento a construção de um satélite bastante mais sofisticado que o Sputnik I, mas que não ficaria pronto a tempo das celebrações. Todavia, viria a ser o Sputnik III.
Sputnik III
Foi por isso necessário construir um outro satélite mais simples, para que conseguissem cumprir a data limite. A decisão de fazer o novo lançamento foi tomada entre 10 e 12 de Outubro, o que deixava à equipa construtora apenas cerca de 4 semanas. E a construção da nave Sputnik II foi bastante complicada, dada a intenção de transportar a bordo um ser vivo.
A nave estava equipada com instrumentos para medir a radiação solar e os raios cósmicos, um sistema de geração de oxigénio acompanhado de sistemas para absorver dióxido de carbono, e outro para evitar o envenenamento por oxigénio. Foi também instalado um ventilador que operava quando a temperatura da nave superava os 15ºC. Além disso, o satélite levava comida suficiente para o voo de sete dias - uma geleia especial que tinha sido servida aos três animais eleitos para o programa, em terra, para que se habituassem.
Também foi feito um fato espacial para a Laika. O fato estava equipado com uma bolsa para armazenar os seus dejectos, e a cadelita tinha também uma cadeira que limitava os seus movimentos ao sentar-se, pôr-se de pé ou encostar-se. A frequência cardíaca da Laika podia ser monitorizada na base espacial, bem como medido o seu ritmo respiratório, a sua pressão arterial e os seus movimentos básicos.
Laika nos treinos para viajar no Sputnik II
A cadelita Laika vivia nas ruas de Moscovo. Pesava aproximadamente seis quilos e tinha três anos de idade quando foi recolhida para integrar o programa espacial soviético. Orginalmente foi baptizada de Kudryavka (Crespinha), depois de Zhuchka (Bichinho) e ainda de Limonchik (Limãozinho). Por fim, ficou Laika (originalmente Husky, dado a raça cruzada da Laika).
Os cães recolhidos eram mantidos num centro de investigação em Moscovo. Três deles foram avaliados e treinados para as missões espaciais: Laika, Albina e Mushka.
Laika, Albina e Mushka
A missão levada a cabo pelo Sputnik II exigia uma atenção especial sobre o treinamento dos cães, dado que o voo exigia dos animais uma adaptação a espaços confinados por um período de dias.
Albina foi lançada duas vezes em foguetes para provar a sua resistência a grandes alturas, e Mushka foi utilizada nos testes dos instrumentos e dos equipamentos de suporte vital. Laika foi seleccionada para participar na missão orbital, tendo Albina como sua principal substituta.
O seu treino estava a cargo do cientista Oleg Gazenko. Consistia em acostumar os cães ao ambiente que iriam encontrar na viagem - o espaço reduzido da cápsula, os ruídos, as temperaturas, as vibrações e acelerações. Durante estas actividades, a pulsação dos animais chegava a duplicar. Este processo de treino seria mais tarde utilizado nos cosmonautas soviéticos.
A adaptação dos animais ao confinado espaço do Sputnik II exigia que permanecessem confinados a espaços progressivamente mais pequenos por períodos que iam até vinte dias. O confinamento provocou distúrbios biológicos nos animais, o que foi deteriorando as suas condições físicas.
Em 31 de Outubro de 1957, três dias antes do lançamento, a Laika foi colocada no Sputnik II no cosmódromo de Baikonur (no actual Cazaquistão). Dois assistentes ficaram encarregues de vigiar a Laika. Antes do lançamento - a 3 de Novembro de 1957 - a pelagem da Laika foi limpa com uma solução de etanol, e pintaram-na com iodo nas áreas onde lhe seriam aplicados sensores para vigiar as suas funções corporais.
O Sputnik II foi lançado dia 3 de Novembro de 1957. Os sinais vitais da Laika iam sendo seguidos tele-metricamente por controle em terra. Ao alcançar a aceleração máxima, a respiração da Laika aumentou três a quatro vezes acima do normal, e a sua frequência cardíaca passou de 103 a 240 batimentos por minuto.
Lançamento do Sputnik II
Ao alcançar a órbita, a ponta cónica do Sputnik II desprendeu-se com sucesso. A outra secção da nave que se deveria ter desprendido, não o fez, impedindo que o sistema de controlo térmico funcionasse correctamente.
Uma parte do isolamento térmico desprendeu-se, fazendo com que a cápsula alcançasse uma temperatura de 40ºC. Após três horas de micro-gravidade, o pulso da Laika tinha descido para 102 batimentos por minuto - uma descida que levara três vezes mais o tempo idealizado em relação ao tempo conseguido nos treinos, indicando o elevado stress em que a Laika se encontrava.
Dados iniciais mostravam que apesar do stress a Laika estava a comer. Todavia, cinco a sete horas após a descolagem a recepção de dados vitais cessou...
Infelizmente, a viagem da Laika ao espaço era logo à partida uma apenas de ida. Os cientistas que construíram a nave satélite não tiveram tempo de elaborar uma estratégia de reentrada dado o curto prazo permitido para a construção do Sputnik II. A nave entrou em combustão espontânea na camada superior da atmosfera em Abril de 1958.